Tópicos sobre Leitura e Produção de Texto
Written by Adonai Estrela Medrado   
Wednesday, 31 March 2010 11:32

Sobre

Este material é adaptação de dois trabalhos apresentados no primeiro semestre de 2010 como requisito para aprovação na disciplina Leitura e Produção de Texto do Curso de Letras/UNIFACS.

Sentido do texto e incompletude no processo de comunicação

A característica de incompletude da língua diz que os falantes pressupõem um contexto e certo conhecimento prévio do interlocutor sobre o tema abordado. Assim, o leitor, que também é sujeito agente na comunicação, com suas especificidades e sua história, deve levar em conta o contexto do produtor do discurso e utilizar seus conhecimentos prévios para interpretar a mensagem.

Outro ponto importante a ser considerado é que, segundo os princípios da análise do discurso como proposta por Pêcheux, cada emissor e cada receptor fala e escuta como representante de uma determinada posição da estrutura social. Pode-se, por exemplo, falar de uma posição profissional dentro de uma instituição que legitima determinados tipos de saberes e que busca divulgá-los, ou da posição da família, partindo de uma ideologia protetora e auxiliar da prole.

Por fim, o sentido não se encontra totalmente nem se encerra no texto. O contexto e os conhecimentos prévios são decisivos e fazem parte do processo de comunicação. Sem eles não seria possível a comunicação, pois, todo texto é sempre incompleto, o produtor não explica, nem tem condições de explicar tudo para seu leitor. O texto em si não tem sentido quanto descontextualizado ou fora de um conjunto de conhecimentos compartilhados.

Coesão e Coerência

De modo geral, a coerência é dada principalmente pela unidade temática, tratando-se do mesmo assunto do começo ao fim, exigindo-se, evidentemente, algum conhecimento prévio do leitor. Já a coesão é a manifestação linguística da coerência e é mantida pelas relações de reiteração, associação e conexão. Ela dá continuidade ao texto e possibilita a produção de sentido a partir do lido.

Diferenças entre a fala e escrita

Tanto a escrita quanto a fala possuem características próprias. Quando a escrita tenta representar a fala há perda de elementos, como, por exemplo, todo o gestual e a “fala” corporal; no contrário, quando a fala tenta representar a escrita, também há perda, pois não são reproduzidas os negritos, os sublinhados e os diversos aspectos tipográficos presentes no texto escrito.

Geralmente a fala acontece no contexto do “ao vivo”, um interlocutor busca o outro com o olhar, faz pausas e segue uma linha baseada nos vários elementos subjetivos que vão surgindo o que torna a fala não planejada, fragmentada e até incompleta visto que algumas vezes desvia-se de um assunto e esquece-se de retomá-lo.

Já na escrita, dentre outros fatores, ocorre um planejamento e uma elaboração maior e uma condensação da informação, pois existe uma revisão e uma preocupação maior com quem lê, já que a interação não ocorre no contexto do “ao vivo”.

Cada uma das formas do uso da língua tem sua ordem. A retextualização é o processo de transformação de ordem. Se, por exemplo, a ordem que se tem por objetivo é a escrita e retira-se a maioria dos elementos de oralidade (“eh...”, etc.), de fragmentação (pausas, etc.), de repetição (“nem... nem”, “de... de”, etc.) e de interação (“viu?”, “né?”, etc.).

Leitura parafrástica e polissémica

O grau de inferência pode variar da leitura parafrástica até a leitura polissêmica. A leitura parafrástica reproduz, repete um discurso já formulado e sedimentado. A polissemia trata do diferente, de uma nova significação, de uma atribuição de sentido ao dito.

Em geral uma tirinha de jornal permite uma leitura bastante polissêmica, na medida em que dá grandes possibilidades de inferência de sentido por parte do leitor que, com base em seus conhecimentos prévios, ganha uma maior liberdade de significação.

Um verbete de dicionário apresenta-se predominantemente parafrástico uma vez que as possibilidades de interpretação deste texto são bem reduzidas; muito pouco espaço é deixado para a inferência do leitor.

Um texto técnico-acadêmico, embora em grau menor do que um verbete, também é predominantemente parafrástico. Apesar de em alguns momentos haver um espaço/convite para uma significação própria, existem informações que dão muito pouco espaço para uma leitura polissêmica.

Assim, um verbete ou um texto técnico-acadêmico, por pouco ou nada termos a inferir, são parafrásticos, enquanto uma tirinha de jornal pela possibilidades inferenciais é polissêmico.

Ensino de produção textual escrita por meio de gêneros textuais

Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa lembram que não há apenas uma determinada forma, um determinado contexto e uma determinada circunstância na qual a comunicação precisa ou pode ocorrer. As formas, as circunstâncias de interlocução e os contextos são variados. A linguagem é um instrumento da comunicação, saber usá-la inteligentemente é fundamental no processo de interação.

A expressão gênero textual refere-se a características sociais e comunicativas de determinado texto. Estas características dizem respeito ao conteúdo, propriedades funcionais, estilo e composição. Tanto o professor, quanto o livro didático devem trabalhar com o aluno o conceito de gêneros textuais. Mais do que uma questão de modismo, é uma questão de responsabilidade ao se educar.

Precisa-se possibilitar que o aluno adquira a habilidade de usar os recursos da língua para produzir sentido de acordo com a situação em que se encontra e sua intencionalidade. O trabalho apenas com as superestruturas (descrição, narração e dissertação) limita a potencialidade criativa do aluno e pode reduzir seu repertório comunicativo e interacional.

É evidente que o trabalho com as superestruturas é relevante, pois cada gênero textual traz em si trechos narrativos, descritivos e dissertativos, porém o que não se pode é ignorar a função social de cada texto. Deve ser dada ao aluno a condição de reconhecer e saber utilizar no seu cotidiano os vários gêneros textuais (carta, e-mail, bilhete, lista de compras, resenha, resumo, romance, etc.). Esta é uma responsabilidade do professor e do livro didático no ensino da produção textual escrita.

Last Updated on Monday, 24 May 2010 14:57