O que é sujeito?
Written by Adonai Estrela Medrado   
Wednesday, 21 July 2010 08:51

Sobre

Esta é a adaptação de um trabalho foi apresentado na disciplina Tópicos Especiais em Psicologia I na Universidade Federal da Bahia (UFBA) em julho de 2010.

O que é sujeito?

Quando falo de sujeito quero dizer antes de tudo um ser humano, social e singular. Não há sujeito que não seja humano. Não há humano que não seja social. Não há sujeito-humano-social que não seja singular. Este ser está em um mundo que “[...] não se reduz ao aqui e agora [...]”[1]. Principalmente quando atinge certa maturidade, ele começa a projetar um futuro para si, mas antes disto, e talvez mais importante que isto: ele age com base em sua história e em sua “[...] posição em um espaço social [...]”[2]. O sujeito é construído historicamente, ao longo de sua vida. É com base nesta história que ele interpreta o mundo e monta estratégias para nele viver e se relacionar.

De um ponto de visto mais amplo: o sujeito é relação com o mundo. Como também “o sujeito é relação com o saber”[3], pois na medida em que ele se relaciona com o mundo sempre se relaciona com algum tipo de saber. O saber não está só na escola nem é de responsabilidade ou de posse exclusiva do professor. Existem outros ambientes e outras pessoas que podem proporcional uma relação extremamente frutífera com o aprender. Portanto, há saber que não é (nem pode ser) “transmitido” por um professor, assim como há saber e há aprender fora do ambiente do que se convencionou chamar de ensino formal.

Isto não é ruim ou invalida nem a escola nem o professor. Apenas os retira de um papel exclusivista e monopolista, abrindo as fronteiras para que possamos entender a relação com o saber como um conjunto de relações “[...] que um sujeito mantém com tudo quanto estiver relacionado com ‘o aprender’ e o saber”[4]. É uma relação com o mundo, com o outro e com si mesmo.

É uma relação com o mundo porque é nele onde o sujeito está inserido e onde ele tem que construir suas relações. Neste ponto, destaca-se o papel do “ambiente” de aprendizagem. O sujeito que é relação com o saber não está em um ambiente. Ele se relaciona com o meio, “[...] o meio não é uma soma de dados físico-químicos, mas, sim, um conjunto de significados vitais [...]”[5], “[...] esse meio é um mundo, que ele partilha com outros”[6]. O “ambiente escolar” ou o “ambiente de aprendizagem” é o mundo e representa antes de tudo um espaço de relação e de troca; o sujeito “[...] age no e sobre o mundo”[7].

É uma relação com o outro porque há outros no mundo e o humano-social se relaciona e se constrói em relação ao outro. Todos estes outros são também sujeitos já que ninguém pode “[...] estar privado da capacidade de ser sujeito. Todo humano é um sujeito, inclusive quando dominado e alienado, e, se existem várias maneiras de se construir como sujeito, elas não procedem do ‘mais ou menos’”[8]. Desta forma, viver (no mundo) é viver com o outro que também tem desejos, história, projeta futuro e que é relação com o saber. Ser sujeito é viver a experiência da relação no mundo de outros que precisam de nós assim como nós deles.

É uma relação com si mesmo, pois cada sujeito “[...] apropria-se do social sob uma forma específica”[9]. Somos singulares e desejantes ao nosso próprio modo. Construímo-nos a partir do social, mas no processo fazemos um distanciamento da sociedade. O sujeito não é simplesmente um reflexo do meio, mas uma apropriação do meio e das relações que estabelece. “A subjetivação é um distanciamento em relação à socialização”[10].

Notas

[1] CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber: elementos para uma teoria. Porto Alegre, Artmed, 2000, p. 33.

[2] Idem nota 1, p. 33.

[3] Idem nota 1, p. 82.

[4] Idem nota 1, p. 80.

[5] Idem nota 1, p. 78.

[6] Idem nota 1, p. 78.

[7] Idem nota 1, p. 33.

[8] Idem nota 1, p. 41.

[9] Idem nota 1, p. 43.

[10] Idem nota 1, p. 43.

Last Updated on Wednesday, 21 July 2010 09:05