O que significa para um aluno aprender?

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O texto abaixo é um trecho da página 52 da obra CHARLOT, Bernard. Relação com o saber, formação dos professores e globalização: questões para a educação hoje. Porto Alegre: Artmed, 2005. Não foram feitas alterações.

O que significa para um aluno aprender?

Temos também procurado compreender o que significa para um aluno aprender.

Para muitos deles, é fazer o que o professor pede: se for bem conformadinho, obediente, terá boas notas e passará para a série seguinte. São alunos que, quando se lhes pergunta o que é um bom aluno, respondem: aquele que é pontual e, em sala de aula, levanta o dedo antes de falar. Definem, assim, o bom aluno sem dizer que este aprendeu muitas coisas, ao passo que, para aqueles que são realmente bons alunos, aprender é adquirir conhecimentos, entrar em novos domínios do saber, compreender melhor o mundo e ter aí prazer.

Os alunos para os quais aprender é fazer o que o professor manda são, frequentemente, aqueles para os quais aprender é passar muito tempo com os livros e os cadernos. Para eles, a medida do estudo é o tempo que nele se passa (em vez de brincar com os colegas), e não o saber que se adquire estudando. Aí há uma relação popular com o saber: o trabalho é o tempo transcorrido com o estudo - e espera-se um "pagamento" proporcional ao tempo que se passou com ele. Provém daí o sentimento de injustiça que esses alunos experimentam, quando passam muito tempo com cadernos e livros e tiram, apesar disso, uma nota baixa. Ocorre aí uma verdadeira trapaça: passaram bastante tempo trabalhando e não foram pagos com uma boa nota.

Nesse caso, os alunos julgam que a nota é tanto mais injusta porque o que a nota avalia é também, e sobretudo, o professor. O trabalho do aluno é vir à escola e escutar o professor (e, em casa, passar o tempo com os livros e cadernos). O trabalho do professor é ensinar o saber aos alunos. Se o aluno não sabe, depois que escutou, é porque o professor não fez bem seu trabalho e, por isso, é totalmente injusto que esse professor dê uma nota baixa ao aluno. O professor é que deveria receber uma nota baixa! O modelo de referência desses alunos, modelo implícito, é o do gravador. Um dia, um aluno me disse: "Eu não tenho problema, minha cabeça é como um gravador: o professor fala, meu cérebro registra". Um outro me disse: "Este professor é ótimo, quando fala, suas palavras entram diretamente em minha cabeça". Isso quer dizer que o que é ativo no ato de ensino/aprendizagem é o professor, não o aluno. Aí há um modo de interpretação da situação muito frequente entre os alunos do meio popular fracassados. São alunos que, desde os 6 anos, nos dizem que é preciso escutar o professor, enquanto os alunos que têm sucesso dizem muito frequentemente que é preciso ouvir a lição, refletir, experimentar.

Para pensar...

  1. No trecho acima, Charlot se refere ao aluno da escola. Você acha que ele também é útil para entendermos o aluno da universidade/faculdade?
  2. Que "tipo" de aluno é você?
  3. Que estratégias você utiliza para aprender?